“ A vida mental do bébe é despertada e animada pelo desejo entusiástico, a paixão dos pais. Senão existir um investimento parental, a mente do bébe não se desenvolve…o instinto de vida esmorece…é uma sobrevivência apática e abúlica…”

Georges Mauco (1978)

sábado, 24 de novembro de 2012

Terapia de casal. O que é?


“Nosso amor é muito bonito, ela finge que me ama e eu finjo que acredito”
Nelson Sargento


A procura de ajuda em conflitos conjugais e familiares  já não é motivo de vergonha, o que significa que há uma mudança de mentalidades. Nem todos os conflitos têm que acabar num divórcio podendo o casal trabalhar as suas diferenças com a ajuda de um terapeuta se esse for o desejo dos dois, ou separar-se sem traumas se a continuidade da relação não for possível.
Por outro lado o casal que se desfaz em conjugalidade, não deixará de ser um casal parental, logo, a terapia de casal serve também para ajudar na relação futura com os filhos, depois da separação.   
Todo o indivíduo é um grupo, ou seja, dentro de cada um existe ao longo de toda a sua vida (um pai “bom”, e, ao mesmo tempo, pai mau; uma mãe igualmente “boa e uma mãe “má”, a relação do casal, os filhos, os vínculos entre irmãos etc.) sendo que cada uma destas personagens interage entre si no interior do indivíduo e no exterior, levando a que o casal repita o “teatro” da sua família, sem que seja possível escapar aos vínculos transmitidos nas suas vivencias de infância. É fundamental para que a vida prossiga que se analise os aspectos familiares de cada um, para isso é feito um genograma do casal e de cada um dos membros. 
As principais causas que desgastam a relação de um casal, ao ponto de conduzir a um desejo de separação ou divorcio, são as seguintes:
  • ·         Uma profunda desilusão quando a fase de paixão passa e a realidade se impõe.
  • ·         Personalidades imaturas, de um ou ambos, de dependência dos pais, ou quando os filhos nascem.
  • ·         A entrada de uma terceira pessoa na vida do casal.
  • ·         Infidelidade conjugal
  • ·         Lutos patológicos por resolver.
  • ·         Agressões recíprocas
  • ·         Mudança de valores em casais que se formaram ainda muito jovens.
  • ·         Indefinição de papéis junto aos filhos, sogros e pais.
  • ·         Falta de limites familiares com as famílias de origem.
  • ·         Patologia de personalidade de um membro, embora neste caso não seja um factor determinante.

Objectivos da terapia de casal:
  • ·         Reconhecer a relação vincular do casal (que vínculos    os unem ou afastam).
  • ·         Perceber o papel da transgeracionalidade ( que vínculos e padrões foram passando de geração em geração)
  • ·         Restabelecer o processo de comunicação.
  • ·         Ajudar a compreender as dinâmicas do casal.
  • ·         Aceitar as diferenças do outro.
  • ·         Aprender a respeitar o outro enquanto indivíduo diferente.

Na terapia de casal o cliente é o casal.

Como é que se processa a terapia de casal?

A terapia de casal é um processo de análise da relação a dois ,com o terapeuta, onde ambos vão percebendo os aspectos que impedem a relação de se desenvolver ou decorrer na normalidade. A terapia de casal pode ser em sessões semanais ou quinzenais com a duração de uma hora.

Quando é que não é caso para terapia de casal?


Não há restrições à terapia de casal. Pode-se fazer terapia sempre que o casal tenha um conflito que não consegue resolver sozinho ou se o casal se quiser separar sem conflitos, sobretudo se existirem crianças envolvidas na separação. O casal que se separa deixa de ser um casal conjugal  mas será sempre um casal parental, assim, é conveniente que procurem ajuda mesmo que a intenção seja de se separar, ou que já estejam separados. 

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Terapia familiar

A família é o núcleo vital em que o individuo se desenvolve, como tal a sua importância é fundamental. A terapia familiar psicanalítica centra-se nos problemas da família como um todo ajudando a perceber a sua história, os mitos e fantasmas que de alguma forma serviram para criar conflitos que provocam entropia no sistema. A compreensão das interacções dos membros da família é o enfoque da terapia familiar. Pai, mãe e filhos e outros membros que vivam no mesmo espaço, beneficiam de terapia familiar sempre que existam problemas difíceis à compreensão dos seus membros.
Dificuldades várias podem levar uma família a procurar terapia tais como conflitos conjugais em que os filhos  também estão implicados nomeadamente se são adolescentes, dificuldades quanto à educação dos filhos, intrusão de um membro exterior à família, infidelidade, mas sobretudo dificuldades comunicacionais entre pais e filhos e entre o casal parental e conjugal. Quando pais e filhos não conseguem comunicar é altura para procurar ajuda. O objectivo da terapia é repor a comunicação interrompida ( ou que nunca existiu), exercitar a capacidade de pensar da família  e promover a individuação/autonomia dos membros. 

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

O primeiro dia de aulas e a ansiedade de separação


Deve-se preparar a criança para o início das aulas?

Sim claro, mas, toda a família deve-se preparar para esta fase de adaptação da criança, que pode durar poucos dias ou prolongar-se por mais algum tempo. Se a criança tem vínculos seguros com os pais, especialmente com a mãe, esta fase deve decorrer de forma calma. A entrada na escola pela primeira vez (seja pré-escolar ou 1º ano) deve ser falada e explicada com algum tempo de antecedência valorizando os aspectos bons (socialização, aprendizagens novas…) e respondendo às dúvidas da criança com honestidade. É fundamental explicar que ir à escola é um acto comum para todas as crianças assim como os adultos vão para o trabalho todos os dias.

 A entrada da criança na escola é um momento de ansiedade?

 Esperado que a criança fique ansiosa e também temerosa nos primeiros dias de aulas. Afinal, todas as situações novas geram medo. Mas são os pais que, na maioria das vezes, não conseguem esconder as suas preocupações. Diante de sentimentos tão turbulentos, a criança pode sentir-se perdida. É nesse momento que ela observa atentamente a atitude dos pais na busca de alguma referência sobre como deve se comportar. Se a mãe ou o pai (ou ambos) forem pais ansiosos com a separação do filho e não conseguirem transmitir a serenidade necessária, então, é muito provável que a criança fique num estado de ansiedade descontrolado. Se a criança mostrar alguma ansiedade, normal, como já dissemos atras, e os pais a contiverem e mostrarem calma e segurança, estão a ajudar o filho a ultrapassar esta fase e a ensinar-lhe (é pelos exemplos que a criança aprende) a ultrapassar outras que vão surgir na infância e adolescência.

 Qual deve ser a atitude dos pais quando a criança chora ao entrar na escola?


O choro na hora da separação é muito comum e, não significa, necessariamente, que a criança não queira ficar na escola. Da mesma forma, a ausência de lágrimas não quer dizer que ela não esteja sentindo a separação. A criança deve ser levada até junto da professora (ou educadora) e ser entregue a ela, pois é sempre mais difícil sair do colo de alguém conhecido, se for criança de colo ou se for criança que ingresse no primeiro ano, a professora é a figura de referência. Tentar confortá-la e reforçar que a escola é um lugar agradável, e as professoras serão amigas e muito carinhosas e que ela ficará bem até a mãe chegar. A entrada na escola é um evento muito importante na vida de uma criança, pois é o primeiro passo rumo à independência em relação aos pais. É a construção de um espaço próprio, que marcará o seu caminho futuro. Para os pais, esse também é um evento decisivo. É um momento de constatação de que o seu bebê está crescendo, logo é uma passagem a outra fase da criança.
É importante que os pais deixem claro para a criança que a escola é um lugar seguro e tranquilo para aprender coisas interessantes e que também é um local onde poderá  divertir-se e fazer novos amigos. Deve-se esclarecer a criança em relação a situações de Bullying (depois da escola começar e quando a criança já estiver ambientada) de forma simples e adequada à idade, talvez dizendo que por vezes existem meninos que batem nos outros e que o pai ou a mãe devem ser informados acerca disso.
Nunca se deve oferecer recompensas pela estadia na escola, uma vez que é um facto natural da vida das crianças. No final do dia procure estabelecer uma rotina em que exista um espaço para partilha de informação acerca do dia da criança. Não fazer perguntas directas para que a criança não sinta que é intrusão, mas perguntar por exemplo:
- Como é que foi o teu dia? – Esta a deixar espaço para ela contar e a mostrar o interesse pelas coisas do seu filho- Se a criança não quiser contar nessa altura, sabe que mais tarde poderá ir falar sobre isso, pois sente segurança nos pais.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Anorexia

Isabelle Caro, modelo anoréctica . Falecida em 17 de Nov. de 2010


O corpo da mulher como ideal de beleza tem sofrido ao longo dos tempos, diversas imagens com aspectos mais ou menos valorizados. Esses aspectos estiveram sempre relacionados com a quantidade de massa adiposa considerada bela para a época. Em épocas passadas as formas cheias das mulheres aparecem muito valorizadas nas pinturas renascentistas. As mulheres foram desde sempre o ideal de beleza enaltecido pela pintura e literatura nas diversas culturas existentes no nosso globo.
 Actualmente a relação entre a mulher e o seu corpo tornou-se mais evidente, uma vez que a exigência de um corpo magro, esquálido por vezes, entendido como um padrão de beleza recai principalmente sobre o sexo feminino. A preocupação com o corpo tornou-se uma manifestação frequente nos relatos clínicos, centrando-se na imagem corporal e se estão mais ou menos gordas. Por consequência vem a preocupação com a comida e uma batalha com exercícios físicos, dietas e contagem de calorias. Evidentemente que nem todas as mulheres que fazem isto sofrem de anorexia, no entanto existem as que vivem uma autêntica tirania da magreza, suprimindo completamente os alimentos, causando sérios danos físicos e psíquicos e imenso sofrimento para elas e para a família. Se são os ditames da moda propagados pela comunicação social ligada ao meio os responsáveis pela disseminação desta imagem de beleza que podemos apelidar de cadavérica, ou uma doença que se esconde por detrás de um padrão de beleza, o facto é que uma doença mortal quando não tratada. Podemos descreve-la através de características bem especificas. A anorexia nervosa tem início no princípio da adolescência e atinge na maioria o sexo feminino, existindo também nos rapazes mas em menor percentagem. É reconhecível pela insistência que as pacientes apresentam em manter um peso abaixo do padrão de normalidade, que é o resultado da privação alimentar apesar de sofrerem terrivelmente com a fome. Esta doença começa geralmente a partir de uma dieta em que são restringidos muitos alimentos considerados “ alimentos que engordam”, conduzindo com o decurso da doença a uma perda de peso muito acentuada apresentando a adolescente ou mulher jovem um corpo esquálido e quase andrógino. Aos poucos passa-se a viver exclusivamente em função da dieta, da comida, do peso e da forma corporal, o que dificulta o convívio social, tornando-se este por vezes inexistente.

 A intensa ligação com a comida, em alguns casos, torna o hábito alimentar cada vez mais secreto, bizarro e ritualizado, ao ponto de por vezes, ainda no início ninguém se aperceber do problema a não ser pelo facto da adolescente ou mulher estar cada vez mais magra. Em estados muito avançados as pacientes deixam de fazer a sua vida normal, quase sempre por incapacidade física, levando a internamentos muitas vezes com estados muito debilitados, que podem ser fatais, pois o corpo desnutrido deixa de funcionar levando ao colapso de órgãos vitais, tais como o coração e os rins. Quando as adolescentes resistem à vontade de ingerir comida, tal é sentido como um triunfo, mas se pelo contrario não o conseguem fazer quer por imposição da família, ou aspectos sociais, então sentem-se tristes e deprimidas, levando a hábitos de esconder comida para não a ingerirem, não se sentarem à mesa com a família com a desculpa de estudar e irem comer para o quarto ou outros afazeres urgentes, ou então na impossibilidade de restringir os alimentos provocarem o vomito para controlar o peso.
Esta doença não contudo um produto dos dias actuais ao contrário do que se possa pensar, data de 1689 a primeira descrição na literatura médica sobre pessoas que rejeitavam alimentos, no entanto devido à facilidade de comunicação é hoje mais visível. Outras descrições são mais anteriores datando à idade média, da qual existem documentos referentes aos jejuns de raparigas que na tentativa de escaparem a casamentos forçados se privavam de alimentação ao ponto de perderem os contornos do corpo e caírem doentes e assim fazerem o noivo desistir do enlace.
A ideia que a anorexia é uma doença de causas orgânicas tem sido passada de alguma forma por quem que encontra explicação para tudo no biológico. No entanto está provado desde há algum tempo que a anorexia é uma doença psicológica que se traduz depois em manifestações físicas e psicológicas. Tal confusão, que traduz a anorexia numa doença apenas do comportamento alimentar, pode ser extremamente perigoso, pois pode conduzir à eliminação dos sintomas físicos, pela ingestão de alimentos e descurar a parte psicológica verdadeira causadora da doença. A anorexia é uma doença do foro emocional, em que os afectos estão perturbados por isso incapazes de deixarem o corpo funcionarem levando a comportamentos de oposição pela retirada voluntária dos alimentos, virando ao que parece uma raiva surda contra si próprias que faz as adolescentes definharem perante os olhos dos pais e amigos, como se através de um corpo magro exibissem o sofrimento e o horror da sua vida interna. De salientar que esta doença requer ajuda especializada, envolvendo uma equipa multidisciplinar onde o acompanhamento psicológico psicoterapeutico é fundamental para o tratamento desta doença. Quando não tratada pode levar à morte como aconteceu à modelo Isabelle Caro em 17 de Novembro de 2010. Isabelle Caro ficou conhecida por ser uma modelo anorectica, como aliás documentam as inumeras fotos disponiveis na net.



domingo, 8 de julho de 2012

Haverá casais perfeitos?

Embora alguns casais possam apresentar uma harmonia perfeita entre eles ao ponto de serem invejados por amigos e conhecidos que brigam com os seus parceiros amiude, acredite que isso não passa de aparencia.  Todos os casais brigam e discutem sobre vários assuntos dos quais divergem ao longo da vida. É saudável que assim seja, embora o nivel de discussão ou briga, quando passa para a agressão verbal ou fisica deixe de ser normal. Casais muito amigos e que não saem de perto um do outro ao ponto de não cosneguirem fazer coisas por si próprios, tais como progredir na carreira, fazer novos cursos, assistir a um espetáculo com amigos, entre outros exemplos, tem uma relação de dependencia e pouco saudável, o vinculo que os une é doentio, heranças da trangeracionalidade. O contrario também é preocupante. Se um casal não faz nada em conjunto e procura todas as ocasiões para estar fora de casa e da relação é sinal que esta está em perigo. Discussões acesas e frequentes, perda de interesse e aumento da raiva e ódio são sinais de alerta máximo. 
Um casal vai atravessando diversos estádios ao longo da vida e, em todos eles poderá existir alguma dificuldade de ajustamento, não quer isso dizer que o casal já não se ame ou que a relação tenha terminado. A chegada de um filho, a saida dos filhos adultos de casa, a morte de um filho, a mudança de idade, ou seja o envelhecimento progressivo, trazem alterações fisicas, biológicas e afectivas que é preciso equilibrar e partilhar. 
O mito de que existem casais perfeitos é para desmistificar. Não existem. A busca do parceiro(a) perfeito pode ser uma constante ao longo da vida, sobretudo em quem viveu experiencias parentais pouco gratificantes na infancia. 
Quando um casal está em crise é porque as crianças que existem em cada um também o estão. Poderá estar na altura de procurar ajuda. A psicoterapia de casal poderá evitar o desmenbramento do casal e se isso não for possivel pode ajudar na separação, para que esta não seja traumática e possa ficar uma boa convivencia sobretudo quando há filhos. 
Uma coisa é certa, não há casais perfeitos, nem familias perfeitas. A perfeição é algo do divino, os homens e mulheres são humanos, por isso com falhas. 

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Depressão na infância e adolescência


Embora estejamos cada vez mais familiarizados com o tema da depressão, raramente ouvimos falar de crianças deprimidas. Mas isso não significa que esses casos não existam.
Estima-se que esta perturbação atinja 4 a 8% das crianças e sabe-se que esta incidência tende a subir na adolescência.
A depressão infantil ocorre, em 20% dos casos, em crianças na faixa etária entre 9 e 17 anos, e é causada geralmente, por dificuldades de relacionamentos com a própria família, na escola ou em outros locais que frequentam.
Mas o número mais alarmante diz respeito ao facto de esta ser uma realidade que tende a passar despercebida aos olhos de 70% dos pais. 
“Como é que isso é possível?”. Apesar de algumas crianças manifestarem a sua depressão através dos sintomas clássicos (tristeza, pessimismo, ansiedade, etc.), a maioria fá-lo de forma atípica, o que dificulta o diagnóstico.
Assim, na maior parte dos casos, as alterações mais visíveis tendem a confundir-se com rebeldia: irritabilidade, agressividade, hiperatividade e/ou diminuição do rendimento escolar.
Esta manifestação atípica impede muitos pais de perceberem a origem dos problemas e, assim, darem uma resposta eficaz.
O grito de alerta tende a surgir aquando do aparecimento de alterações menos expectáveis, como o medo da morte (conversas recorrentes sobre o tema), sentimentos de culpa e de inutilidade e retrocessos, como a encoprese ou a enurese (defecar ou urinar na roupa ou na cama).
É necessário que nos consciencializemos de que a depressão infantil existe e pode ser grave! Infelizmente, nem todas as crianças são felizes e despreocupadas!
 A depressão manifesta-se consoante a idade da criança. Assim: 

Primeira Infância (0 a 2 anos): a depressão nos bebés manifesta-se por, uma recusa acentuada da criança em alimentar-se; um atraso no crescimento, no desenvolvimento psicomotor, da linguagem; perturbação do sono e afecções somáticas (A criança que está muitas vezes doente, faz febres, gripes, viroses com muita frequência!)
Idade pré-escolar (2 a 6 anos): nesta fase a perturbação depressiva, manifesta-se mais por distúrbios de humor (grandes birras, ou grande euforia momentânea substituída rapidamente por grande tristeza e apatia) distúrbio vegetativo (em que a criança não sabe nem gosta de brincar, isola-se muito e fica muito parada no seu canto. Não se interessa por nada).
Nesta fase pode ainda verificar-se comportamentos regressivos a todos os níveis, nomeadamente a nível esfincteriano (podem voltar a fazer cocó e chichi nas cuecas ou na cama), motor e de linguagem.

Idade Escolar (6 a 12 anos): Entre os seis e os oito anos, o quadro depressivo caracteriza-se por tristeza prolongada, ansiedade de separação (a criança que não quer deixar a mãe para ir para a escola) e sintomas psicossomáticos ( dores de cabeça, dores de barriga, diarreias, febres) .
As crianças com mais de oito anos, expressam os seus sentimentos depressivos através de baixa autoestima, ideias auto- depreciatórias, sintomas psicossomáticos, baixa de energia, desinteresse e desespero.
A depressão manifesta-se muitas vezes através das dificuldades escolares, ao nível da ansiedade, do desinteresse, das dificuldades da concentração intelectual e dos problemas de comportamento, para além dos problemas alimentares e de sono. Podem também surgir queixas psicossomáticas. Pode ainda verificar-se um aumento da agressividade, grande irritabilidade, com envolvimento da criança em conflitos com os pares.
Um outro sintoma que pode ocultar também uma depressão é a “hiperatividade”, as crianças muito irrequietas, que não conseguem manter um mínimo de atenção nem de concentração.
Prevenção
Em vez de prevenção, podia estar escrito amor.
Os pais são os melhores atores na prevenção da depressão infantil, dando-lhes o seu amor e carinho, bem como compreensão e amparo e transmissão de confiança.
Tratamento
Como podem os pais ajudar….
Numa primeira fase, o papel dos pais passa por tentar perceber e empatizar com as dificuldades da criança, mesmo que estas pareçam insignificantes. Por exemplo, a mudança de casa ou de escola acarreta mais medos e angústias do que os adultos possam imaginar. Deve existir um ambiente de confiança, propício a que a criança se sinta à vontade para explorar as suas dificuldades. Os pais devem incentivar a criança a falar e entender os seus receios.
 Quando recorrer ao psicóterapeuta? 
É pois importante que os pais estejam atentos às ALTERAÇÕES REPENTINAS do comportamento e do humor dos filhos.
Se estas alterações se prolongarem por mais de duas semanas, sem que  haja uma causa identificável, é importante pedir ajuda de um Psicoterapeuta.
Tal como acontece noutras circunstâncias, os pais podem sentir-se incapazes de dar resposta a este tipo de problemas, pelo que a intervenção de um especialista passa a ser imprescindível.
No entanto é importante salientar que as crianças, pelo facto de ainda estarem em desenvolvimento são mais flexíveis, permeáveis, e aderem muito bem à psicoterapia o que permite uma evolução muito rápida no tratamento e um elevado grau de confiança no sucesso da intervenção.

A Psicoterapia com crianças é diferente da psicoterapia com adultos. A Psicoterapia com crianças inclui conselhos educativos e explicações; recurso aos jogos, às brincadeiras e ao desenho; a atitude do psicoterapeuta é mais participativa.
Com as crianças o ritmo das sessões variável, de acordo com a tolerância da criança.
Na Psicoterapia com crianças é muitas vezes necessário o envolvimento dos
pais na terapia, pelo que além do trabalho com a criança é necessário também algumas sessões com os pais.


domingo, 22 de abril de 2012

Terapia de casal, para que serve?

Relacionar-se afectivamente numa relação amorosa, além de saudável, é muito importante para a vida das pessoas. No entanto, saber conviver e partilhar a vida com outra pessoa de forma harmoniosa pode ser um grande desafio para muitos.

A vida a dois muitas vezes acaba em desgaste por pequenos desencontros do dia-a-dia, brigas constantes, pelas divergências de opinião, discussões sobre a relação que não levam a nada, por aquelas manias que o outro tem, intrusão da família de origem, desacordo na educação dos filhos, traições, portanto, são diversos os factores que se acumulam fazendo com que o casal se distancie. E, nos momentos de crise, o bom e velho diálogo, que é fundamental para qualquer relacionamento, acaba por ser algo bastante difícil.

Antes de colocar um ponto final num relacionamento estável ou no casamento, por causa dos problemas, procurar uma terapia de casal pode ser uma ajuda preciosa para encontrar um caminho que traga felicidade para os dois. A função da terapia de casal não é evitar a ruptura do casal, mas facilitar o encontro da melhor solução para ambos. Pode-se evitar um divórcio ou o casal pode decidir que não quer mais continuar a relação e que estão melhor sozinhos. 

Mas afinal a terapia de casal é eficaz?

Quando o assunto é o casal, a pergunta mais comum é “Terapia de casal funciona?” e se realmente dá resultados positivos. A terapia de casal funciona sim, mas é preciso saber desde o início que não existe uma fórmula mágica para salvar relacionamentos. A finalidade da terapia é fazer com que as pessoas parem tudo o que estiverem fazendo por algumas horas e tenham a oportunidade de rever a vida a dois, se dediquem a olhar para si, para a sua vida, repensem as suas atitudes e dificuldades, enfrentem os sentimentos que julgam difíceis de lidar e aprendam a respeitar-se no diálogo. 

É um espaço apropriado para facilitar o diálogo, com a ajuda de um profissional capacitado que escutará tudo atentamente. No entanto, a função do terapeuta de casal não é dar conselhos ou palpites na vida das pessoas. O terapeuta de casal irá ajudar a descobrir novas possibilidades na relação e a aprender a resolver os conflitos de forma assertiva. 

Não existe a altura indicada para começar a terapia de casal, mas é fundamental que, antes de tudo, o casal consiga reconhecer a insatisfação para evitar que as brigas e crises cheguem a um ponto extremo. A principal pista é saber reconhecer quando as brigas estão fazendo com que se perca o respeito.

Quem procura a terapia de casal deve saber também que o objectivo não é evitar o divórcio, e sim melhorar o relacionamento, tentar uma reconciliação. No entanto, nada impede que ambos cheguem à conclusão de que serão mais felizes separados. Nesses casos, mesmo que a dor seja inevitável, a terapia de casal ajuda as pessoas a enfrentarem a situação de forma menos traumática.

A terapia de casal é prolongada como as outras formas de terapia?

Não a terapia de casal é breve, cerca de 12 sessões com algum tempo de intervalo.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Pedagógia e bom senso, a receita para uma educação eficaz.

Não é fácil educar uma certeza que quase todos os pais têm. Há crianças fáceis que dão pouco trabalho, mas há outras que deixam os pais desesperados, logo desde que nascem. É comum os pais dizerem que o outro filho não lhes deu trabalho e que o mais novo é esgotante. Pois bem, apesar de poderem existir vários irmãos filhos dos mesmos pais, eles são pessoas diferentes, logo reagem de diferentes modos  requerendo outras formas de educação.
Não há pais perfeitos, nem educação ideal, mas há erros que podem ser evitados. O carinho e as regras são fundamentais na educação de todas as crianças. Muitas vezes pais culpabilizados pelo pouco tempo que passam com os filhos substituem o afecto por brinquedos caros. As crianças devem ser incentivadas a viver para o ser e não para o ter. Uma educação pautada por regras firmes mas justas e impostas com afecto é a garantia de estar a construir um ser humano saudável. Tudo isto utilizando a pedagogia do bom senso.
Alguns erros a evitar:
Compensar as ausências com presentes – O que conta é a qualidade do tempo que os pais passam com o filho. Vale mais uma hora diária (embora seja pouco) em que esteja totalmente com o seu filho do que um dia inteiro em que estejam juntos em casa mas a criança está entregue a si própria e à televisão ou computador. A tendência dos pais é fazerem-se substituir pelos presentes logo a criança passa a medir o afecto pelos presentes que recebe. 

Querer ser amigo em vez de pai ou mãe – os pais não são os melhores amigos dos filhos, esses estão lá fora. Há pais que acreditam que as crianças vão gostar mais deles se tiverem um comportamento de amigo em vez de pai. Nada mais errado. As crianças querem pais que sejam pais, que contenham, que estabeleçam limites. Ser amigo do filho vai levar a que a criança relativize as regras e os conselhos e fique confusa. Pais são pais, não são amigos.

Quebrar as regras impostas – as regras tem que ser explicadas e ser justas para que sejam eficazes. Uma regra aplicada de forma injusta e com autoritarismo é uma regra que deseduca. Dizer não é uma necessidade em educação. Muitas vezes os pais têm medo de dizer não. Se proibiu o seu filho de ver televisão durante um tempo não quebre a regra, o seu filho irá julgar que pode quebrar as regras. A nível social poderá trazer-lhe problemas um dia mais tarde. 

Fazer comparações entre filhos ou com outras crianças – é importante aceitar que as crianças têm ritmos diferentes e tempos de aprendizagem diferentes. Comparar com outro filho dizendo que o outro é ou foi melhor aluno, que o colega é mais inteligente porque tem melhores notas, cria sentimentos de frustração enormes. Deve aceitar o seu filho como ele é sem fazer comparações com os outros. Isso não impede que o incentive a ser uma pessoa melhor e mais bem preparada para a vida. Sem cair em exageros claro.

Fazer pelos filhos em vez de ensinar a fazer – as crianças precisam de experimentar a fazer as coisas. Aprende-se praticando. Errar e voltar a tentar é a única forma de aprender. Por vezes os pais não deixam os filhos falhar e fazem as tarefas por eles. O seu filho tem seis anos e quer tomar banho sozinho? Ainda bem, está a manifestar a sua autonomia e por isso deve ser incentivado.

Impor a perfeição aos filhos – nenhum filho é perfeito. Impor a perfeição sob pena da retirada do afecto ou de castigos é algo que cria um sentimento enorme de inferioridade. Um pai que nunca está satisfeito com as notas do filho (mesmo que o filho tenha tido 92% numa prova) é criar um sentimento de imperfeição e subir os parâmetros para níveis que levam sempre a uma grande insatisfação. Se o seu filho é um aluno médio ajude-o a aproveitar melhor as suas capacidades mas em exigir o impossível.
   
Proteger demasiado – Proteger demasiado uma criança para que não passe por frustrações medos ou fracasso poderá levar ao bloqueio da criança. Deixe-o experimentar e falhar. Ajude-o a lidar com as adversidades da vida e a defender-se. Proteger demasiado inibe a agressividade necessária à sobrevivência. 

Mostrar as próprias fragilidades à criança – mostrar as preocupações às crianças vai levar a um sentimento de insegurança enorme. Os filhos esperam pais fortes e capazes de os proteger. Mostrar uma imagem de pai ou mãe desvalorizado e pouco competente pode levar a criança a criar sentimentos de culpa. Poderá falar de alguns problemas mas sem sobrecarregar com moralismos ou culpabilidade. 

Desautorizar o pai ou a mãe em frente à criança – quando os pais se desautorizam estão a desvalorizar-se perante a criança. A criança deixa de respeitar ambos os pais. Mesmo que não concordem devem falar em privado e chegar a um consenso. As crianças aprendem a manipular os pais que não estão em sintonia. 

Não conversar com os filhos – para que a criança crie confiança é necessário que a comunicação seja aberta na família. Nunca deixe de responder às questões do seu filho e mantenha o canal de comunicação aberto para que ele recorra sempre que precise. 

Brincar com a criança – há pais que não brincam com os filhos, ou deixam de brincar cedo demais por acharem que isso infantiliza a criança. Brincar com os pais fortalece os laços entre pais e filhos e ensina o verdadeiro valor do afecto: a criança sente-se amada e apoiada. Programar brincadeiras e actividades em família é das coisas mais proveitosas que pode fazer pelo futuro do seu filho. 

Deixar a educação para a escola – na escola não se educa, espera-se que as crianças tragam educação de casa. A educação tem que ser feita pelos pais. A função do professor é ensinar. Os problemas de disciplina estão a aumentar pela demissão dos pais da educação dos filhos. Responsabilize o seu filho pelo seu comportamento na escola e não lhe permita faltas de respeito com os professores. Deixe isso bem claro. Exija do professor que ensine, não que ensine valores morais e de conduta, embora também o possa fazer. Se os pais não cumprirem o papel de educadores, o professor vai ter dificuldade em ensinar por ter que por limites e regras que já deveriam estar adquiridos.  
Sempre que não consiga lidar com a educação dos seus filhos, ou sinta que está a perder o controlo, deverá procurar ajuda. Por vezes numa única sessão consegue-se desmistificar a situação e ajudar a família. 

domingo, 15 de abril de 2012

Ciúmes na relação amorosa

De um modo geral considera-se que os ciúmes se encontram em estreita correlação com o amor de um sujeito a um objeto (o objeto amado em termos gerais; em concreto, a pessoa amada que, neste contexto, é objeto de ciúmes). Dizendo-o metaforicamente, é frequente - ou melhor, tem sido frequente - quantificar o amor pela pessoa amada mediante a intensidade dos seus ciúmes, chegando-se ao ponto de muitas vezes se duvidar do amor de alguém que diz estar enamorado e não sente ciúmes em relação ao objeto do seu amor (Amor sem ciúme, não é amor, Léautaud); ou de outra forma, "provocando-se ciúmes" ao enamorado para incrementar o desejo do objeto amado e que se consideram equiparáveis à intensidade do amor.

Esta "teoria" dos ciúmes é partilhada por quantos se sentem ou julgam sentir amados pelo sujeito ciumento: é-lhes gratificante, nesses momentos, transformarem-se em dominadores da situação e manipulam o ciumento com o seu galanteio. Alem disso, é vulgar que usem de algum tipo de chantagem e sem o expressar se façam “comprar” por ele colocando o seu preço cada vez mais alto. Não há duvidas que algumas pessoas adotam uma estratégia comportamental bastante eficaz para que surjam ciúmes no parceiro. 

Por outro lado, muitas vezes e, na sua maioria, o objeto de desejo converte-se num autentica vitima do ciumento (numa relação que dura anos e que já não é inspirada pelo desejo do objeto e que se tem constantemente ao lado) não sendo esses ciúmes inspirados pelo amor, mas sim por outra questão. O que inspira os ciúmes não é o amor mas sim o ódio, pois as vitimas dizem ter motivos suficientes para sentirem que o ciumento não os ama, e que fora dos momentos de angustia suscitados pelos ciúmes sentem e demonstram uma verdadeira indiferença afetiva pelo outro. É esta a dinâmica dos ciúmes numa relação triádica uma vez que só se pode falar de ciúmes quando aparece um terceiro elemento, o rival que compete com o ciumento pela propriedade do objeto amado. Não raras vezes o ciumento alucina essa relação, que faz parte da sua imaginação, conduzindo-se à loucura a si e ao outro, num delírio psicótico destrutivo.

A loucura é uma forma de existência. Como é o da prudência. Mas além disso, é um projeto de existência para o louco e, por isso, a sua razão de viver, o que dá sentido à sua vida. Assim, só sabe existir desta forma, tentando encontrar em todos os gestos do outro motivo que justifique o seu ciúme e, quando o louco encontra motivos para a sua loucura tudo fica menos angustiante e a vida passa a ser mais suportável.

Não é concebível amar - desejar a posse total de alguém - sem a angústia que suscita a insegurança em relação à própria posse. E também a ulterior angústia de que esse objeto, que neste momento cremos possuído, porque declara amar-nos, possa perder-se posteriormente, quer porque deixe de amar-nos, quer, o que é pior, porque, além disso, nos possa ser subtraído por amor a um terceiro.

Toda a relação, desde a mais precoce (com a mãe) requer segurança, a base da construção futura da personalidade. Somos mais ou menos seguros, conforme o que experimentamos ao longo dos nossos primeiros anos de vida. Se tivemos relações de segurança com as nossas figuras de referência então seremos adultos seguros. Se isso não aconteceu, poderão estar criadas as condições para mais tarde sobressair uma estrutura de personalidade insegura, ciumenta e maltratante na relação com o objeto amado nas relações adultas.

No entanto, as nossas relações na vida social são quase sempre baseadas em graus de confiança mínima, mas que não apresentam níveis de desconfiança exacerbados. Podemos assim, mediante essa confiança mínima, realizar coisas e estabelecer relações sem que nos sintamos perseguidos ou ciumentos. Mas, o sujeito ciumento apresenta graus de desconfiança que chegam a rondar a paranoia, quando pensa que perdeu a posse do objeto. Não é o pensar que não é amado que causa os ciúmes, mas sim a perda da posse do objeto (com imagina ter uma relação fusional) isso sim é enlouquecedor, podendo em grau extremo, quando o ciumento (aplica-se a ambos os sexos) alucina e passa para estados psicóticos levar à morte do objeto e do sujeito num ato de loucura. Os crimes passionais têm por base uma estrutura de personalidade paranoide e psicótica onde a desconfiança, a incerteza e a insegurança crescem dia a dia, até à passagem ao ato: a morte do objeto de deixa assim de pertencer ao outro.

Não há ciúmes normais. Os ciúmes são anómalos ainda que sejam frequentes e pouco intensos. Por mais frequentes que sejam nas relações interpessoais, especialmente os que se revestem em relação amorosa, são sempre reveladores de uma situação não superada pelo sujeito. Acima de tudo é uma situação crónica que vai subindo a gradação dos ciúmes, insuperáveis e incuráveis na sua maioria, por não serem considerados pela sociedade uma situação de doença. É uma doença. Não é só considerado doença a partir de um certo grau, aliás quem tem autoridade para falar disso são as vitimas que sabem quando já não suportam mais, mas essas, raramente vão a consultas de psicologia ou psiquiatria para que possam falar disso. Amor, ciúmes, loucura e morte estão separados por muito pouco, coexistindo na vida de muitos casais de todas as orientações sexuais, tornando-a num inferno onde por vezes não é possível escapar, levando à morte lenta de vidas que ficam suspensas no delírio de alguém. Se é vítima ou portador de ciúmes incontroláveis procure ajuda, ainda pode estar a tempo de interromper o ciclo patológico de amor. A terapia de casal e individual é uma solução para problemas ao nível da relação de casal.