“ A vida mental do bébe é despertada e animada pelo desejo entusiástico, a paixão dos pais. Senão existir um investimento parental, a mente do bébe não se desenvolve…o instinto de vida esmorece…é uma sobrevivência apática e abúlica…”

Georges Mauco (1978)

domingo, 8 de abril de 2012

A infidelidade dos pais vivida pelos filhos


Descobrir que o pai trai a mãe ou o contrario é uma situação aterradora para qualquer criança ou adolescente e até mesmo para um adulto. O conflito de lealdade aparece misturado com a mágoa e com a raiva. O pai traiu a mãe (ou o contrário), mas se o filho ou filha for adolescente, também se sente traído. Na adolescência é necessário os pais terem uma relação sólida para darem segurança ao jovem. Se a traição acontecer numa fase em que o pai é muito importante e idealizado, então é um desgosto enorme para a criança, pelo seu egocentrismo pode até pensar que a culpa foi sua. Portanto, é sempre uma situação que envolve muito sofrimento seja qual for a faixa etária do filho ou filha.  
Optar por não contar põe o adolescente numa situação em que se sente que está a trair o pai ou a mãe. Se conta, está a trair o progenitor que cometeu o acto e a situação não é melhor. Este conflito é comum em situações que me tem chegado ao consultório. Em ambas as situações os adolescentes ficam muito abalados emocionalmente, adoecendo por vezes, sem que a família desconfie do que se passa, sobretudo quando esse segredo é guardado a sete chaves no seu interior. Em algumas situações é o medo de perder os pais, perder o seu afecto, que leva a que o adolescente não confronte a família com a situação. Em alguns casos, a traição é consentânea, ou seja, o traído sabe, mas finge que não sabe para preservar a familiar, por dependência económica, por razões que se prendem com o funcionamento interno da pessoa entre outras situações. O único que não sabe é o adolescente.
Dizia-me um dia uma adolescente acerca da traição do pai à mãe “ a minha mãe perdoou mas eu não consigo, como é que eu vou confiar num homem um dia? São todos iguais.”
E é este tipo de dilemas que se levantam. A confiança no progenitor perde-se, o adolescente sente-se traído e preso num conflito que não é seu e o seu futuro amoroso poderá estar comprometido.
Uma mulher adulta em terapia dizia muitas vezes “ eu não consigo suportar a traição, a minha mãe traiu o meu pai durante anos e eu assisti a tudo calada, sofri imenso, mas não queria ficar sem a minha família, mas não suporto olhar para ele, faz-me lembrar o que eu passei”.

O que é dos pais não diz respeito aos filhos, nomeadamente a relação dos dois, é saudável que a relação esteja limitada internamente. No entanto os filhos são sempre muito atentos à relação dos pais, é um modelo para a sua vida futura. Quando um adolescente ou adulto jovem se vê confrontado com a situação de traição do pai ou da mãe e melhor atitude é confrontar o progenitor implicado e imputar-lhe a responsabilidade de resolver ele ou ela a situação. Assim, fica liberto internamente e não guarda para si a responsabilidade do segredo, ou de se sentir desleal com a mãe ou o pai. O ideal seria o traidor resolver a situação da melhor forma. A melhor forma não existe em compêndios, é sempre adaptada á situação, à família e às próprias pessoas. Cada um encontrará a forma mais adequada de resolver o dilema.
Nunca se deve pressionar a (o) jovem a contar. O que acontece muitas vezes é que a descoberta dessa traição é no seio da sociedade, nomeadamente em cidades pequenas em que todos se conhecem. Há sempre alguém, muito bem-intencionado que quase pressiona a(o) jovem a faze-lo. Essa é uma decisão que não compete a terceiros, quanto muito ajudar a perceber sentimentos e libertar o filho(a) dessa responsabilidade. O que se passa entre os pais é deles, embora diga respeito ao filho(a). Fingir que não sabe poderá trazer mais conflitos, por isso confrontar o pai ou mãe é sempre a melhor opção e deixar essa responsabilidade para os dois resolverem. Claro que uma situação de traição na família deixa sempre uma marca nas relações futuras do adolescente. A insegurança nas relações futuras e a desconfiança poderão ser sombras que ficaram dessa altura. Quase sempre a melhor opção é procurar ajuda psicoterapêutica para ajudar a separar e compreender as coisas dois pais das suas. Aconteceu aos pais, não quer dizer que lhe vá acontecer. As pessoas e as situações são diferentes.
Quando a criança é pequena, é diferente. Quase sempre sabe pelo pai ou pela mãe e atribui muitas vezes a culpa a si própria. Isso acontece devido ao seu egocentrismo, próprio da idade e ai cabe ao pai e mãe fazer com que se sinta segura e certa que os pais continuam a gostar dela.  Quando a criança é pequena o que acontece com mais frequência é o pai ou mãe traído tentar desviar a criança do convívio do outro, utilizando a criança para retaliar. Situações dessas devem ser evitadas porque deixam a criança presa no conflito a quem ser leal, alem de muitas vezes atribuírem a culpa a sim nomeadamente se a criança tem menos de 9/10 anos e ainda não consegue descentrar-se de si própria. Nestas idades convêm deixar claro que o pai ou a mãe, caso se separem em consequência da traição, gostam da criança, apesar de não gostarem mais um do outro. Nunca fazer chantagem com a criança e dizer coisas do tipo “ se vais com o pai/mãe já não gosto de ti” ou “ a mãe/pai tem outra pessoa, já não gosta de nós”. São frases deste género, ditas em momentos de dor e raiva, que vão criar problemas emocionais na criança, sobretudo se forem ditas de forma continua.   

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